A governadora Ana Júlia Carepa reuniu, no último sábado (19), com donos de cerâmicas do município de São Miguel do Guamá. Os ceramistas fizeram uma exposição para a governadora de um projeto de substituição de biomassa nos fornos de queima de telhas e tijolos. A ideia principal é substituir a lenha nativa por subprodutos da indústria madeireira e extrativista, diminuindo, assim, o impacto sobre a floresta e a emissão de CO² na atmosfera.
O italiano Stefano Merlin, que presta assessoria ao Sindicato da Indústria Ceramista de São Miguel do Guamá e Região (Sindicer), explicou que os industriais têm usado pó de serragem, casca e ouriço de Castanha-do-Pará, e caroço de açaí para alimentar os fornos, substituindo a lenha. "Assim, esse material residual deixa de gerar metano, na sua decomposição no meio ambiente, e a floresta nativa é preservada", disse ele. Atualmente, cinco cerâmicas estão certificadas por organismos estrangeiros, gerando crédito de carbono, que podem ser comercializados por meio de bolsas internacionais.
A governadora Ana Júlia Carepa disse que vai levar o caso dos ceramistas de São Miguel do Guamá para o encontro global de governadores, que acontece no final deste mês na Califórnia (EUA). "Essas são ações concretas que vocês estão executando para diminuir a emissão de gases", disse ela.
Para a governadora e os ceramistas, o mais importante no momento é acessar o sistema de compra de crédito de carbono Climate Action Reserve, utilizado pelos norte americanos. O sistema de medição de emissão de gases é complicado e rigoroso, mas não tanto quanto o do protocolo de Kyoto, que é, segundo especialistas, difícil de ser acessado por países em desenvolvimento, como o Brasil.
"Outra questão é que não recebemos nada por manter a floresta em pé ou por recuperar áreas degradadas. O que vamos levar ao mundo é que a floresta amazônica beneficia a todos os países e que o crédito de carbono não elimina a responsabilidade dos países desenvolvidos pela degradação de outras áreas ou pelas formas de consumo que vão continuar a produzir impactos sobre o meio ambiente", disse Ana Júlia.
Os créditos de carbono são medidos a partir da redução de gases, segundo estimativas atuais ou recentes, que já significam padrões altos de consumo gerando poluição atmosférica.
Durante a reunião, a governadora abriu espaço para estreitar relações entre o governo e os ceramistas de São Miguel do Guamá na busca de novas formas de otimizar a utilização da biomassa residual nos fornos. "Atualmente, existem 38 cerâmicas no município que geram 3 mil empregos diretos e produzem 40 milhões de peças de tijolos e telhas por mês", disse o presidente do Sindicer, Raimundo Gonçalves Barbosa, que teve sua cerâmica recém-certificada e está coordenando a construção de uma escola técnica para jovens da região, que vai funcionar em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Por meio de doação dos associados do Sindicer, os empresários estão investindo R$ 300 mil na construção da escola, que deve funcionar a partir do ano que vem. "O Senai vai trazer as máquinas e a tecnologia para formar jovens. Dessa forma, vamos gerar mais empregos e aperfeiçoar a mão-de-obra, otimizando ainda mais nossa produção, o que também significa menos poluição", disse Barbosa.
Elielton Amador - Secom