Uma cratera de cinco metros de profundidade por 40 metros de largura impede, desde a madrugada de ontem, a passagem de veículos e pedestres à altura do quilômetro 327, da BR-010, a Belém-Brasília, na região nordeste do Estado. Por causa da chuva, o asfalto cedeu próximo ao município de São Miguel do Guamá, a 146 quilômetros de Belém.
O volume de chuvas no município ultrapassaram, em pouco de cinco horas de temporal, 150 milímetros (mm). Isto significa que choveu mais 50 litros de água por metro quadrado na cidade e entre 500 mil e 1.000.00 de litros de água em quantidade global, apontou o 2º Distrito de do Instituto de Meteorologia (2ºDisme/Inmet).
O chefe do 2º Disme, José Raimundo Abreu, alerta que as chuvas vão continuar no mês de maio na região nordeste do Pará. "A intensidade delas será menor, mas serão frequentes e podem causar mais estrago à população local", enfatizou o meteorologista.
O morador de São Miguel do Guamá há mais de 40 anos, José Carlos Vaz, 41, afirmou nunca ter visto nada parecido acontecer. "Nunca vi chover tanto na cidade. Metade dela ficou sem energia elétrica durante toda a manhã, a água subiu na altura do teto em algumas casas e mesmo horas depois, ainda havia bairros que estavam alagados", relatou.
Ilhada, dona de casa se desespera ao ser largada no caminho
A dona de casa, Alzenir, vinda do município de Castanhal, estava aos prantos na tarde de quinta-feira com medo de não conseguir chegar em Paragominas, onde reside. Ela não atravessou porque estava com a filha de sete meses nos braços. "Estou sem dinheiro e não conheço ninguém para este lado. Quando eu passei, ontem à noite, a rodovia ainda não estava deste jeito. O motorista do ônibus, ao ver a cratera, deixou todos os passageiros na via e foi embora", disse a jovem mãe, que foi levada pela PRF ao município de Santa Maria para tentar viajar por outro meio de transporte.
Além da PA-124, outra rota alternativa para entrar em São Miguel do Guamá era pela Estrada do Bonito, de acesso à via Magalhães Barata, uma das principais da cidade. O caminho estava em condições precárias e pelo menos dois caminhões estavam atolados. O carro da equipe de reportagem também atolou em uma poça cheia de água e lama no final do percurso de 8 km, a poucos metros da BR-010.
Maria Alves, 43, que mora próximo à rodovia, disse que ao longo do dia, pelo menos três carros atolararam em frente à casa dela. "Como tem muito carro passando e muita lama por causa das cheias do rio, que invadiram a pista, o asfalto não suporta o peso dos veículos e vai ficar cada vez mais difícil passar por aqui. Sobretudo se chover de novo", acredita a dona de casa. Na entrada do município, técnicos do Dnit faziam reparos em uma ponte que também ameaçava ceder após o temporal, mas o serviço não interrompia o trânsito.
Acima da média, Chuva na região durou 5 h e causou estragos
De acordo com a previsão da Polícia Rodoviária Federal (PRF-PA), a pista continuará obstruída por cerca de quatro dias, durante os quais serão feitas obras de recuperação do asfalto pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O órgão recomenda que os motoristas acessem a PA-124, pelos municípios de Ourém, Capitão Poço e Irituia para então entrar na rodovia por São Miguel do Guamá.
Em nota enviada à redação, o Dnit atribui o incidente ao desabamento de uma barragem ou açude de fazenda à montante da rodovia. Segundo a nota, o pavimento não suportou o volume de água das chuvas e cedeu, provocando uma tromba d’água que atingiu o asfalto, danificando a tubulação de drenagem e cortando a estrada. O Dnit informa também que atualmente trabalha para a execução de um desvio, a fim de dar andamento ao tráfego no local. O engenheiro do departamento, João Bosco Lobo, estará hoje no trecho para acompanhar as ações de rescuperação da pista.
A estrada é uma das principais vias de saída do Estado e de acesso aos municípios de Paragominas, a 306 km da capital, e Dom Eliseu, a 450 km. O pavimento da pista deslizou por volta das seis horas da manhã, após mais de cinco horas de chuva. A força das águas arrastou a tubulação de drenagem de 30 metros e 1,60 de diâmetro para a margem do igarapé Itaqui-mirim. (orm)
O agente da PRF que estava no local, Cássio Regateiro, explica que os motoristas serão orientados desde o município de Santa Maria do Pará, a 114 km de Belém, a transitar pela rota alternativa. "A pista foi interditada em vários pontos para que não haja nenhum acidente de trânsito. Vamos orientar nos postos para evitar também que as pessoas venham e atravessem por dispositivos improvisados", destacou.
Para conseguir atravessar de um lado para o outro da pista, os pedestres precisavam entrar no igarapé e tinham o auxílio de uma corda para não serem arrastados pela correnteza. Davi Rezende, 30 anos, morador da região, observou que este era o jeito mais rápido de passar. "Todo mundo está passando por aí. O ruim é que depois a pessoa vai ter que ir andando para completar o trajeto. Só nesse tempo que acompanhei a operação da PRF, já passaram mais de 50 pessoas", relatou.