FERNANDO SOROCABA

Desconhecido no Rio, o sertanejo Fernando Sorocaba faz 250 shows por ano e fatura alto com direitos autorais
Se tivessem que adivinhar o nome do compositor brasileiro que mais faturou nos últimos meses, os cariocas fatalmente se equivocariam. Dono de uma coleção de botas de bico fino e outra de chapéus de couro, o paulistano Fernando Fakri de Assis, de 30 anos, dificilmente apareceria entre as três primeiras opções de chute. Talvez nem mesmo entre as dez primeiras.
Acontece que, há alguns meses, o jovem de 1,94 metro de altura que assina autógrafos como Fernando Sorocaba (uma homenagem à cidade onde costumava passar férias) supera medalhões como Roberto Carlos e deixa para trás no ranking de faturamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) todas as musas do axé e todos os MCs do funk. Se mantiver o ritmo de crescimento, Sorocaba em breve será mais lembrado do que os sertanejos Victor & Leo. Seu sucesso? Ao menos cinco entre os principais hits da nova onda sertaneja que varre o país.
- Há quatro anos me dei conta de que precisava fazer um sertanejo diferente, um som que assumisse um papo jovem, ainda não explorado, que marcasse um estilo novo, bobinho-sofisticado, sabe? - conta Sorocaba, durante um almoço num luxuoso hotel de Copacabana. - Aí fui lá: conheci o Luan Santana, compus um repertório diferenciado para ele, só com canções sem duplo sentido, sem sexo, drogas ou cachaça, coloquei dinheiro na estrutura artística dele e, em seis meses, recuperei o investimento. Luan é a prova de que eu estava certo: há nichos que o sertanejo pode aproveitar. E, hoje, nós dois somos sócios.
Sorocaba tem em seu currículo 80 obras. Oito delas chegam ao público através do jovem de cabelos arrepiados que nasceu no Mato Grosso do Sul e engoliu o Brasil com o tal de sertanejo universitário. "Meteoro da paixão" - composto em apenas 15 minutos -, "Um beijo" e "Adrenalina" são os principais sucessos do som que vem do interior e se alternam quase que ad infinitum nas grades de programação das rádios do país. Menos nas do Rio.
- Não sei se vale a pena lutar para emplacar o sertanejo aqui - pondera Sorocaba. - Suporia um trampo do caramba, um gasto de energia imenso. Algo tão grande quanto iniciar uma carreira no exterior. Para nós, do sertanejo, o Rio é um país dentro do país e só tem cerca de 11 milhões de possíveis consumidores a oferecer. Soa mais lucrativo trabalhar para os outros 180 milhões de brasileiros que já consomem o ritmo. Yahoo
Formado em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, Sorocaba tem um olhar mercadológico afiado. Fera no marketing pessoal, usa boné, mas jamais se deixa fotografar com um. Acompanha atento o mercado e gosta de apostar nos chamados nichos virgens.
Depois da explosão de Luan Santana - que chama carinhosamente de "Felipe Dylon do sertão" -, Sorocaba decidiu montar a FS Produções Artísticas. Com 130 funcionários, a empresa gerencia a carreira de três duplas sertanejas. De vez em quando, prospecta novas pérolas à procura de lustro. No escritório, ninguém fala de fazenda, gado, roça ou pinga. Vingam as músicas que versam sobre amor, amizade ou qualquer tema que tire a rapaziada do chão.
- Henrique & Diego misturam axé, forró e sertanejo em cima de um trio elétrico. Nasceram para levar o ritmo para o Nordeste - pontua ele. - Thaeme & Thiago são a versão feminina do Luan, o sertanejo universitário na voz de uma mulher. Só vão explodir no ano que vem. E a minha dupla com o Fernando Bonifácio, meu exímio arranjador, está cada vez mais forte. Voltamos agora da Espanha, de nossa primeira turnê internacional.
Quando sobe ao palco - o que aconteceu mais de 250 vezes em 2010 -, a dupla Fernando & Sorocaba nunca vê menos de 15 mil pessoas. Entre 6 e 18 de julho, tinham agendados 12 shows - um para cada noite -, a R$ 200 mil de cachê.
Para viajar pelo Brasil, eles usam um avião próprio, um King Air C90, ou um ônibus personalizado. Seu faturamento - o maior dos brasileiros na recente aferição do YouTube, atrás apenas de medalhões como Justin Bieber e Lady Gaga - parece lhes permitir quase tudo.
No ápice do show, Sorocaba e o sócio entram cada um numa bola de plástico de quatro metros de diâmetro e engatinham sobre a multidão, em um efeito semelhante ao usado por Peter Gabriel e pelos Flaming Lips. As bolas, claro, jamais passaram perto do chão.
- É perigoso não ser bom de palco hoje - alerta Sorocaba. - A venda de CDs rende pouco, e as apresentações precisam ser espetaculares para render novos contratos.
E, para ele, um show espetacular é aquele que oferece ao fã boa comida, um repertório animado que o faça beijar ou pular de alegria e que gere consumo de cerveja para que os patrocinadores se interessem. Efeitos especiais são bem-vindos.
Ciente de que a posição de líder da moderna onda sertaneja rende críticas, Sorocaba estica o dedo indicador e diz que não veio para dividir.
- O sertanejo roots vai continuar aí. Quanta gente não começou com o Luan e hoje escuta Milionário e Zé Rico?
Enquanto ajusta o chapéu na cabeça, Sorocaba parece acreditar piamente nisso.

 
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