A R T I G O

Profº André Coelho
Ter um dia da mulher é lembrança da desigualdade. Não há dia do homem, nem do branco, nem do rico, nem do chefe. É que ESSES são todo dia. Resumindo: Se ainda precisa haver um dia da mulher, é que o avanço na luta pela igualdade ainda não chegou aonde devia chegar. Aliás, haver um “dia de” alguma coisa é a melhor forma de não fazer nada a respeito dessa coisa e ainda assim parecer valorizá-la. O que deveria haver é algo assim como um programa que fiscalize o regime de contratação, de nomeação para cargos de chefia, que desmascare e puna a discriminação ali onde ela ainda acontece todos os dias. O que deveria haver é uma mobilização contra a dupla jornada de trabalho, uma campanha massiva pelos direitos iguais de crianças e adolescentes homens e mulheres e pela divisão equitativa de tarefas domésticas, denunciando que deixá-las apenas para as meninas e mulheres nada mais é que uma forma de escravidão doméstica por meios simbólicos. Isso, sim, seria uma bela iniciativa. “Parabéns” e uma rosa não compensam a discriminação diária, a escravidão doméstica, a violência simbólica, as barreiras duplas, nada disso. “Parabéns” e uma rosa são apenas uma forma de dizer que o ciclo da desigualdade hipócrita vai se renovar por mais um ano. É revoltantemente hipócrita dar “parabéns” e uma rosa para a mulher que não teve sua promoção porque é mulher, para aquela que é assediada no trabalho porque é mulher, para a mãe que precisa cuidar sozinha das crianças porque é mulher, para a adolescente que não pôde viajar com o namorado porque é mulher, para a menina que precisa lavar a louça depois do jantar porque é mulher. Essa é uma sociedade patriarcal, preconceituosa e excludente. Então, não me venham com “parabéns para elas que tornam esse um mundo mais…”, ah, vão pro inferno, vão!
Profº André Coelho
(Cesupa/Fcat)

 

 
BLOG ARIEL CASTRO © 2012 | Designed by NOVA CV