ZENALDO COUTINHO: TUCANOS À ESPERA DA " HERANÇA MALDITA"


Assim como boa parte do governo que assume o Pará em 1º de janeiro, o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB), anunciado como chefe da Casa Civil da gestão do tucano Simão Jatene, está preocupado. A história da "herança maldita" é verdadeira, embora ele não use o termo durante a entrevista. Zenaldo também considera que a transição é lenta e precisará de alguns dias do mês que vem para ser concluída. Pouco a pouco, o cenário que dezena no horizonte próximo é "terrível", diz ele. "De acordo com a previsão do orçamento, o gasto mensal permitido ao Governo com cada paraense é de R$ 130 por mês. Para saúde, educação, tudo. Isso é muito pouco, não dá. Jatene, enquanto monta sua equipe, já está conversando com futuros investidores pensando em geração de emprego e renda para o Estado", revela. Em entrevista à repórter Carolina Menezes, Zenaldo, deputado reeleito que se licencia da Câmara Federal para atender ao convite de Simão Jatene, avisa que vai usar sua fama de político "boa praça" para estreitar as relações com todos os que puder porque o Pará precisa de quem se disponha a ajudar. "Tenho minhas relações com gente vinculada a vários partidos, de oposição e de governo, e vou aprofundar essas relações agora. Esse cargo me traz o desafio de contribuir para o novo momento que começa. Há um diagnóstico terrível que se avizinha e vamos precisar de muitas pessoas contribuindo para que as dificuldades sejam superadas", afirma. Sobre a composição com o PMDB ele fala pouco, mas deixa claro que "aliados serão tratados e respeitados como aliados", independentemente da origem partidária. A seguir, a entrevista.
Na sua opinião, o novo governo vai mesmo herdar a tal da "herança maldita"?
Vai. Os números que temos hoje são péssimos, mas os indicadores de informações não oficiais são mais graves, bem mais graves.
Então a transição está mesmo lenta, como disse Sérgio Leão, coordenador da equipe de transição tucana?
Não só lenta como pequena em termos de quantidade de informação necessária.
O senhor acredita que a transição terá todas as informações até o dia 31?
Não. Deveremos ter ainda calendário curto, porém intenso, para concluir o diagnóstico terrível que se avizinha.
Como a próxima gestão está trabalhando as articulações políticas?
O governador está montando uma equipe que alia formação técnica, experiência e também política. Temos base parlamentar eleita pequena e, obviamente, ele haverá de consolidar isso como uma ampla aliança de governabilidade, de adesão ao grande projeto. Ele está com muito cuidado, prudência, inteligência, pensando em nomes dos mais diferentes partidos para compor o governo. Acho que a partir daí ele já inicia com esse arco de aliança bem expressivo.
Vocês irão tentar atrair legendas que não apoiaram a candidatura de Jatene?
O governador está gradativamente ampliando as articulações, mas já há parlamentares de diferentes legendas, inclusive de legendas que apoiaram oficialmente a candidatura da governadora atual, mas cujo partido, base, militância trabalhou com Jatene.
Esse apoio conseguido será recompensado com cargos na nova gestão?
Jatene quer fazer um governo plural e homogêneo ao mesmo tempo, com diferentes origens partidárias, mas todos em prol de um mesmo projeto. Ele diz que partido que quer se fortalecer tem de fazer um governo forte. Mais que nunca, o governador quer compor com diferentes pessoas. Os anúncios que ele fez até agora são a prova disso.
Sua atuação na Casa Civil será uma atuação antisseparatista?
Eu sou a favor dos estudos para que se faça qualquer plebiscito, sempre defendi. Acho um açodamento se preparar plebiscito sem informações científicas para orientar os eleitores. Antes de deixar o parlamento, por conta do convite do governador, apresentei uma emenda, já aprovada, de R$ 1 milhao para estudos dos impactos na vida das pessoas que habitam as três regiões do Estado. Há lideres partidarios com esse compromisso, de só votar em plebiscito depois de o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentar essas informações. Além disso, estarei só de licença da Câmara, não renunciei ao cargo. Entra o André Dias como suplente, que tem posições diferentes sobre as questões geográficas do Pará, mas que também defende estudos prévios para posicionamento político posterior. Na Casa Civil, sou colaborador do governador, vou ajudar nas articulações políticas, na integração do Estado, papel que vou exercer com todo afinco para que as políticas públicas cheguem a todos os municípios.
O governador já tem um nome favorito para a presidência da Assembléia Legislativa?
O Jatene, de maneira muito habilidosa, distingue etapas a serem cumpridas. Aprendi que temos de vencer um degrau de cada vez. O desafio dele agora é a composição de uma equipe que tenha competência, harmonia, lisura, proba, para então depois tratar os demais assuntos, o segundo escalão, o terceiro, as regionais, a interiorização das ações de governo, a interlocução com própria Assembléia, que tem a sua autonomia. Ele tem essa noção exata, vai conversar sobre o assunto no momento adequado e só depois da posse. Hoje não há nenhuma discussão sobre isso. Ele vai assumir, terminar de montar seu grupo de trabalho, aí vamos nos aproximar de quem possui uma identidade semelhante à do governo. Não haverá imposição, nem pode haver. Será um trabalho de convencimento, articulação.
Secretarias cedidas ao PMDB serão vigiadas de perto?
A partir de agora, as nomeações são do governador e os nomeados prestarão serviço ao governo, independentemente das origens. Todos iremos para um mesmo projeto, teremos responsabilidades de cumprir com nossas obrigações. A mesma caneta que nomeia é a que tira do cargo, independentemente de partido ou de quem seja. Inclusive eu.
Por que trocar o parlamento pela Casa Civil?
A licença não me afasta totalmente de Brasília (DF). Tenho minhas relações com gente vinculada a vários partidos, de oposição e de governo, e vou aprofundar essas relações agora. Esse cargo me traz o desafio de contribuir para o novo momento que começa. Há um diagnóstico terrível que se avizinha e vamos precisar de muitas pessoas contribuindo para que as dificuldades sejam superadas.
O cenário de governo que se apresenta é pior do que vocês imaginavam?
É um choque de governo. Está pior, bem pior. Ainda há execução de projetos definidos no orçamento, devolução de recursos, mau uso de verba, desvio de verba, absoluto descontrole de gestão, falta de autoridade. Precisamos da conclusão desse diagnóstico para podermos projetar políticas, corrigir os rumos, adotar o nivel de programas adotados por Jatene, cujas realizações serão perseguidas.
Falta de recursos é algo que o preocupa?
Claro que preocupa. O orçamento previsto até agora dispõe de R$ 130 para cada cidadão paraense por mês. Para tudo. Saúde, educação, segurança. Imagina se isso dá, é muito pouco! Vamos estabelecer prioridades, captar recursos, estabelecer parcerias com iniciativa privada. Enquanto o Jatene está compondo a equipe de governo, ele também dialoga com futuros investidores para geração de emprego e renda no Estado.
ORM

 
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