ÉPOCA DE CARANGUEJO GORDO


Diz a cultura popular que nos meses que não levam a letra R, ou seja, de maio até agosto, é o melhor tempo para consumir caranguejo, porque é nesse período que o crustáceo está mais gordo. Crença à parte, o certo é que há uma lógica para entender a relação do mês com a fase de engorda do animal.
Os vendedores de caranguejo aprenderam, empiricamente, que desde março se inicia a engorda deles, porém não sabem explicar o porquê. 'O caranguejo começa a engordar em março e de maio até agosto estão melhores para venda, porque é quando o pessoal procura mais', diz o vendedor do produto, no Ver-o-Peso há mais de 40 anos, Ednaldo Aires.
Ele diz que, apesar de estar na engorda, o preço do crustáceo não fica alterado. Agora, por exemplo, o consumidor pode comprar pelo preço normal, que segundo ele, varia entre R$ 1 e R$ 1,50. A explicação é a maré, afirma o vendedor, 'porque se a maré está alta, tira-se pouco caranguejo e falta no mercado. Mas, com a maré baixa, a catação fica mais fácil e passa a ter maior oferta, o que reduz o preço'.
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O irmão dele, Edvaldo, vendedor há 20 anos no mesmo local, comenta que gordo ou magro, o animal tem suas vantagens. O primeiro, ele informa ser ideal para quem gosta de comer 'toque-toque', quebrando as patas. Quanto ao segundo estágio, é melhor utilizado se a pessoa prefere tirar a massa. 'Porque quando está magro, fica mais fácil de descarnar o animal', garante.
Ao longo da sua experiência de 20 anos como catador de caranguejo, o aposentado José Barbosa Leal, de 71 anos, resume que para saber quando o animal está gordo ou magro, é só prestar atenção para o tempo. 'No inverno ele está gordo e no verão fica magro. É assim, não precisa muito para explicar', ressaltou ele, baseado na cultura adquirida às margens do mangue da localidade Jussarateua, no município de Vigia.
A professora e pesquisadora da área de Biologia e Ecologia Marinha da Universidade Federal do Pará (UFPA), Lucinice Belúcio, diz que os caranguejos apresentam um padrão de crescimento diferente dos demais animais, por causa dos vários estágios de desenvolvimento. Ela explica que esse animal é normalmente bentônico (vive junto ao fundo), mas sua larva vive no plâncton (coluna d’água), durante algum tempo, até voltar ao sedimento para se tornar um juvenil. Durante essa fase de sua vida, em que é a larva planctônica é microscópica, já passa por vários estádios (formas) larvais, em que vai sofrendo 'mudas'.
Diferente da carne, gordura do crustáceo não é saudável
A pesquisadora relata que o conhecimento sobre a diversidade de sua dieta e suas preferências alimentares ainda é limitado. Durante a fase de juvenil, pelo menos uns quatro meses, ele fica mais enterrado e deve se alimentar principalmente de pequenos vermes. 'Depois desse período, ele tem uma mudança na dieta, passando a se alimentar de materiais existentes acima do substrato, com uma composição maior de material vegetal, raízes, troncos, algas do substrato, de sedimento e de matéria orgânica em decomposição', completa.
Portanto, a engorda do caranguejo provavelmente está mais associada ao período em que tem maior disponibilidade de folhas no solo, os meses mais secos, que em grande parte coincidem com os 'meses sem r' (maio, junho, julho, agosto).
Lucinice Belúcio observa que a carne do caranguejo é rica em proteínas, vitaminas e sais minerais e possui baixo teor de gordura. Porém, em geral é uma gordura insaturada considerada saudável para o coração. Em relação à gordura, ela explica que os caranguejos assim como os mariscos são fornecedores bastante pobres. 'O problema é o consumo das substâncias presentes na carapaça do animal (cefalotórax) constituída basicamente pelo 'sangue', hepatopâncreas, um órgão de função digestiva, e gordura do animal, que não pode ser considerado saudável como a carne do animal', conclui.

 
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