Agricultor revela detalhes de atentado em Bragança
O agricultor João Batista Galdino contou, na manhã desta quarta-feira (8), detalhes do atentado que resultou na morte do trabalhador rural e militante do MST, José Valmeristo Soares, conhecido como 'Caribé', na última sexta-feira (3), em um ramal próximo a cidade de Bragança, no nordeste paraense. A vítima foi morta a tiros. O crime é atribuído ao filho do pastor e ex-deputado federal, Josué Bengtson, Marcos Bengston. Ele e mais dois homens, suspeitos de ser os executores estão presos na DIOE (Divisão de Operações Especiais) da Polícia Civil e prestam depoimentos à Polícia.
O sobrevivente deu detalhes do crime em uma entrevista coletiva na sede da CNBB. Segundo João Batista, ele e a vítima trafegavam de moto no ramal Pitoró, em direção a Santa Luzia do Pará, por volta das 8h da manhã da sexta-feira (3), quando foram abordados por três homens armados. 'Eles tomaram a nossa moto e colocaram a gente à força no carro', contou.
O agricultor conta que reconheceu os agressores como os seguranças da fazenda 'Cambará', que tem parte de sua área ocupada por 148 famílias de agricultores, incluindo ele e José Valmeristo Soares. Segundo João Galdino a área tem cerca de sete mil hectares e metade dela é ocupada pelos trabalhadores rurais. 'Esses três já andavam por lá pelo menos há uns cinco meses, se dizendo seguranças da fazenda, mas a área é da união, inclusive já denunciamos isso para o Incra e à Polícia', diz o agricultor.
Depois de entrar no veículo, os dois agricultores seguiram com os homens até o ramal do Cacual, próximo à cidade de Bragança. 'Eles mandaram a gente descer e não mexer com quem tem dinheiro', revelou João Galdino.
O agricultor conta ainda que correu na mata e conseguiu se salvar, mas que ouviu disparos. 'Eles mandaram a gente andar um atrás do outro. Eu corri e eles atiraram. Deram quatro tiros, depois mais três', contou.
João Galdino se refugiou na comunidade Jararaca, às proximidades de Bragança e pediu ajuda aos moradores. 'Eu me apresentei e pedi que ligassem pra polícia. Cinco e meia da tarde os policiais chegaram e eu falei que tinha certeza que ele (José Soares) estava morto, mas não quiseram procurar naquela hora dizendo que estava tarde', lamentou o agricultor.
À noite Galdino avisou a família da vítima e voltou à delegacia, mas as buscas por José Soares só começaram no sábado (4). 'Umas dez horas da manhã encontraram o corpo dele com cinco buracos de bala', lamenta o agricultor.
Ontem à noite a Polícia prendeu o filho do pastor e ex-deputado federal, Josué Bengtson, Marcos Bengtson, e mais dois homens, suspeitos de ser os executores. Eles foram encaminhados à Dioe, na manhã de hoje, para prestar depoimentos, mas a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o conteúdo dos depoimentos não será divulgado, assim como o andamento do inquérito, que é presidido pelo delegado José Humberto de Melo Júnior, da Delegacia de Viseu.
O sobrevivente do atentado diz ter certeza que os presos têm envolvimento no crime. 'Se tem uma prova viva, porque as pessoas ainda duvidam?', questiona o agricultor João Galdino.
Ele diz ainda que o crime revoltou os agricultores que ocupam a fazenda. ‘Agora vamos ocupar toda a área’, avisa. (Portal ORM)
