O padre é acusado de cometer heresia e de ferir os dogmas da fé religiosa
A Igreja Católica anunciou nesta segunda-feira (29) a excomunhão do
padre Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, de Bauru (SP). O padre é
acusado de cometer heresia e de ferir os dogmas da fé religiosa ao
divulgar na internet suas opiniões sobre o tratamento dado pela Igreja
Católica aos temas sexuais. Nos vídeos, o padre critica a igreja por
manter uma posição considerada retrógrada sobre a relação de parceiros
bissexuais e do mesmo sexo.
Segundo a Diocese de Bauru, o padre Beto foi excomungado por um padre
perito em Direito Canônico, nomeado juiz, chamado pelo bispo de Bauru,
Dom Frei Caetano Ferrari, para estudar a situação. Ao analisar o caso, o
juiz chegou à conclusão de que Beto poderia ser excomungado e também
enfrentar um processo de demissão do Estado Clerical, que será enviado
para o Vaticano. A Igreja se revoltou porque as opiniões do padre
chegaram em vídeos enviados à Confederação Nacional dos Bispos, ao
Núncio Apostólico e até ao Vaticano.
O anúncio de excomunhão foi feito em nota divulgada pelo bispado e
assinada por um Conselho Presbiterial Diocesano. A nota explica a
convocação do padre perito em Direito Canônico, nomeado como
juiz-instrutor e diz que houve tentativa de um último diálogo, mas que
Beto reagiu agressivamente, recusando o diálogo. Diante da negativa, que
teria ocorrido na presença de cinco membros do Conselho dos
Presbíteros, decidiu-se pela excomunhão.
'O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas
graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada
recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no
dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto no gravíssimo
delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo
primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes
delitos', diz a nota.
Estadão
Estadão
Fogueira
- Padre Beto disse que foi pego de surpresa. Pelos vídeos divulgados há
duas semanas, ele foi advertido pelo bispo de que deveria retirar os
vídeos da rede social e internet e fazer uma retratação, cujo prazo
terminaria nesta segunda, mas ao chegar pela manhã para entregar a carta
de demissão, ele foi levado para uma sala, onde havia cinco pessoas, o
juiz e uma cadeira vazia. 'Fiquei surpreso porque fui cumprir o
combinado com o bispo, que era para eu manifestar até hoje e não
participar de uma reunião', contou padre Beto.
'Quando me sentei na cadeira, perguntei se aquilo era um tribunal e se a
cadeira era para o réu. Como me disseram que era e que eu seria o réu,
eu me levantei e disse que estava ali para entregar a carta, mas eles me
disseram que não aceitaria a carta e que eles é que iriam me demitir',
contou. A situação, segundo Beto não durou mais de sete minutos. Ele
então registrou a carta em cartório para que fosse levada ao bispo por
um oficial de Justiça, mas o bispo não a recebeu.
Demissão - Padre Beto
disse que não vai tomar qualquer procedimento com relação ao caso. 'Dou
graças a Deus que hoje em dia não existe mais fogueira, senão eu estaria
queimado a essa hora', afirmou. Segundo o padre, ele vai sobreviver com
as aulas que leciona em três faculdades, em cursinhos de segundo grau e
com suas palestras. Para ele, sua excomunhão e possível demissão tem
outra causa. 'É fruto de intrigas 'hierárquicas', de colegas e gente
invejosa que existem dentro da igreja', disse.
O bispado informou que o juiz-instrutor tem autoridade para fazer a
excomunhão. O juiz e o bispo não quiseram dar entrevista mas a igreja
informou que padre está excomungado, privado de celebrar e receber todos
os sacramentos e que enfrentará agora um processo de demissão do Estado
Clerical. O processo é sigiloso, iniciado na Diocese e enviado ao
Vaticano por se tratar de matéria reservada à Santa Sé, que é a
responsável pela sentença definitiva. A partir daí, o réu não poderá
mais se chamado de padre e fica impedido do exercício do ministério
sacerdotal. Já a excomunhão é a privação da recepção de qualquer
sacramento, mas se o padre demonstrar arrependimento a Igreja poderá
retirar a excomunhão, mas não a demissão do Estado Clerical.
Fonte: Estadão Conteúdo