A R T I G O

Os Devaneios de Um Poeta: A desconstrução dos valores sociais e a mistificação de Jim Morrison
“Se as portas da percepção se descerrassem, cada coisa pareceria ao homem como é – infinita”.
(William Blake)

Cada indivíduo em particular é um construtor de ideias nas quais ele age, vive e defende. A partir disso, procuramos encontrar em cada um de nós a essência de nossas próprias vidas. O homem em si é condicionado a agir de acordo com os costumes que ele possui desde o berço, desde seu primeiro repreendimento por parte dos pais. Em tese, o que nós somos hoje aprendemos com pai e mãe. Não temos e nunca tivemos liberdade de poder exprimir sentimentos “verdadeiros”. Quando digo “verdadeiros” estou querendo expressar aquilo que realmente nós acreditamos que possa ser a essência da verdade, a verdade criada segundo nossa consciência. Essa é a busca pela qual fez a banda americana The Doors. Com sua música, os Doors foram até limites que nenhum outro grupo da história do rock (e em uma opinião muito pessoal excluo os Beatles) conseguiu demonstrar. Com grandes clássicos como Light My Fire, Break On Through (To The Other Side), The Unknown Soldier e The End entre outros e que foram já lançados no primeiro disco intitulado The Doors (1967), o grupo entra para a história como um dos primeiros melhores discos de todos os tempos no rock. A grande fama do conjunto se daria pela genialidade explosiva e poética de Jim Morrison, o líder do grupo. Sem contar o talento ilimitado de Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore. Mas Jim seria o grande heroi de um povo oprimido e opressor e que ansiava por libertação e pelo escancaramento da verdade escondida por detrás da Guerra do Vietnã. Os Doors buscaram demonstrar que vida pode ser regada a inúmeras doses audácia, coragem, liberdade e amor. Mas em certos momentos, devidos aos inúmeros escândalos provocados por Jim, os Doors também se perderam, mas se perderam para logo em seguida se encontrarem e entrarem novamente no lugar devido, na Calçada da Fama do Rock. O grande trunfo dos Doors sempre esteve presente na figura emblemática de Jim Morrison. Ele é o perfeito heroi mítico de nosso tempo: parte Dionísio, parte Orfeu, parte Fausto. Ele é uma “porta” para o infinito jogo da aventura humana onde “brincar” com os limites sempre foi seu maior interesse. Os Doors quando estavam no palco não tocavam ou cantavam, simplesmente faziam aquilo que mais é impressionante em sua mitologia, eles atuavam, encenavam no “Teatro das Essências”. Jim vociferava e mostrava ao público que eles podem ser os revolucionários não do mundo, mas sim de suas vidas tolidas por seres (leia-se Estado) ocultos que jamais são evidenciados. Morrison demonstrava que a música está intimamente ligada com a Literatura através da poesia e inovou quando recitava seus poemas (Jim era poeta e autor do livro The Lords & New Creatures) ao som do teclado de Ray, da bateria de John e da guitarra de Robby. Enfim, conseguiu fazer uma fusão perfeita entre rock e poesia, jogando no estilo musical um lirismo sem fim. A partir disso, os Doors chegam praticamente ao fim após o lançamento do LP L.A. Woman e também com a morte de Jim Morrison em Paris em 1971. O que fica aqui sempre estará, o funcionamento da música como um catalisador e a influência dos Doors por toda uma geração roqueira que estaria por surgir.
GERALDO BRANDÃO
Formado em Letras pela UEPA.
Profº em Paragominas.

 
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